Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de 2012

Guerra nas Estrelas (Slavoj Zizek)

O Luther Blisset, leitor do blog, mandou esse artigo do Zizek sobre Guerra nas Estrelas, já que ele gosta da série (que eu acho muito ruim, além de ser de fantasia muito maldisfarçada de ficção científica), enão concorda comigo. O artigo é muito bom, deem uma lida: Eis o interesse   ideológico da saga de Guerra nas Estrelas – mais exatamente, de seu momento central: a inversão do ”bom”   Ken Anakin no “mau” Darth Vader. Aqui, Guerra nas Estrelas aproveita o paralelo explícito entre os níveis individual e político. No nível individual, a “explicação” refere-se a um clichê budista pop: Ele se transforma em Darth Vader porque começa a se apegar às coisas. Não consegue se separar da mãe; não consegue se separar da namorada. Não consegue se separar das coisas. Isso o torna ganancioso. E quem se torna ganancioso envereda pelo caminho do lado negro, porque teme perder suas coisas. (George Lucas, citado em “Dark Victory”, Time, 22/4/2002). A Ordem Jedi, portanto, é apresentad

A decadência da ficção científica (parte 2)

VII. Alguém pode argumentar: ah, mas isso de imaginação regressiva só vale pra ficção espacial, você não foi pras áreas mais "técnicas" da FC. Nada disso! Apesar desse tema de viagem no tempo ser chato pra caramba (porque tudo se resume à uma disputa física e filosófica sobre o que é a linha de tempo, ou seja, se ela pode se alternar ou se tentar alterar o passado cria um universo paralelo), vamos lembrar que nenhum livro interessante pode ser escrito em cima dos aspectos puramente técnicos. Um livro que é considerado o primeiro da FC por muitos, A Máquina do Tempo , de H. G. Wells, por exemplo, consegue usar o tema da viagem no tempo para falar das contradições sociais no capitalismo (o Wells era socialista, ou mais especificamente, socialdemocrata, e tem uma entrevista famosa dele com o Stálin). A civilização do futuro é dividida entre os Morlocks, que vivem em máquinas nos subterrâneos, e são os descendentes dos operários, e os Elois, incapazes de traba

Algumas frases de Bayazid Al-Bastami

Gente, estou postando essas frases porque a única coisa que eu vi em português sobre Al-Bastami foi um site esotérico e uma citação minha aqui do blog! O sufismo é a corrente mística e panteísta do Islã, surgida na luta contra o legalismo e a contaminação com o poder na época do califado, e busca a lembrança (dhikr) da presença de Deus no mundo. Bayzaid Al-Bastami (804-87?) foi um dos primeiros a falar do estado de fana (aniquilação), em que a personalidade do místico se dissolve em Deus. Por causa disso, ele (e depois Mansur Al-Hallaj, que foi crucificado por isso) ficou conhecido por várias das suas frases que expressavam a unidade com Deus, que parecem blasfêmias para os que não entendem o seu significado. A "loucura" dessas frases foi o que motivou o apelido por que ele é conhecido até hoje, "O sufi bêbado": "A Tua obediência a mim é mais que a minha obediência a Ti" "Eu vi a Caaba dando voltas em torno de mim" "Moisés desejou

A decadência da ficção científica (parte 1)

O futuro não é mais o que era antigamente Renato Russo Onde se tenta provar que a ficção científica acabou porque o futuro acabou I. Não acredito que algum fã de ficção científica em sã consciência ache que o gênero não está em crise há quase trinta anos. Os clássicos foram morrendo, e ninguém veio depois deles. A FC hoje se resume a comentários, pastiches e paródias dos clássicos, ou se degradou em literatura infantojuvenil. Ela ainda sobrevive em alguns roteiros de cinema ( Matrix ou Distrito 9 , só pra falar de dois), mas a literatura está estagnada e sendo lentamente sugada pela fantasia. Eu acredito que exista um contexto maior determinando isso, que é o fim da literatura, desde a década de 1970. O que o estilo pós-modernista expressa é justamente o esgotamento do conteúdo especificamente literário, que determinaria as novas formas. Em vez disso, o pós-modernismo é um milk shake de formas antigas, quando não é uma "radicalização" experimental que fica bem aq

Black Sabbath, banda formada por operários antiimperialistas!

Quando hoje a gente vê a decadência do metal e, pior ainda, a maioria do público do estilo, formado por jovens facistoides de classe média, a gente acaba esquecendo que poderia ter sido diferente - e que, realmente, as coisas eram diferentes no começo. Por isso essa postagem sobre o Black Sabbath. A cultura e a posição de classe do heavy metal setentista Antes de tudo, temos que entender o contexto em que surgiu o heavy metal. O rock tem a sua origem no blues, como todo mundo sabe. Então, era música negra de resistência (e defendia a liberdade sexual da juventude, assim como a melhor parte do funk putaria de hoje), até ser absorvido pelo mercado e embranquecido na época da "invasão inglesa" (1962). Os Beatles, que eram a principal banda da invasão inglesa, se redimiram assumindo o seu papel na segunda radicalização do rock'n'roll (1966-1967). Nesse momento, a radicalização do rock refletia a radicalização mais geral da sociedade, tanto nos países imperialist

O mito do comunismo primitivo

Sobre A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado O mês tá acabando, e eu não quero deixar o blog em branco, então vou escrever uma coisinha que eu tava querendo. Como todo mundo sabe, eu não estudei história nem biologia (sou formado em letras), então meu conhecimento sobre o assunto é de segunda mão (coisas que eu li). Mas isso ainda tá muito acima da maioria das pessoas que, por se reivindicarem marxistas, ainda acham que o  Origem da Família dá uma descrição minimamente certa do que foi o começo da civilização. Bem, um projeto que meu querido Rodrigo Santos sempre teve, e que eu acho uma grande ideia, é reescrever a Dialética da Natureza , a partir da linha de frente das descobertas nas ciências da natureza. Um trabalho preliminar para isso seria levantar essas atualizações. Na minha opinião, se trata principalmente da física, da cosmologia, da pesquisa sobre a origem da vida e da evolução, incluindo a humana. A ideia é dar um passinho nesse caminho.

Para Além do Princípio do Prazer

Como eu tenho que devolver o livro, vou anotar aqui algumas impressões sobre ele. Primeiro, mostra o que afasta a psicanálise de ser uma ciência, ao mesmo tempo em que a aproxima. Qualquer tese tipo a do Popper, que acha que a psicanálise é somente uma metafísica, não resiste ao relato do Freud sobre as mudanças na metapsicologia, sempre causadas pela experiência clínica. Por outro lado, o que fica claro é que essas mudanças não têm como ser verificadas independentemente por uma comunidade que possa rejeitar o paradigma, e dependem da tradição (que na época passava pela pessoa do Freud, que era tipo o "guru" do movimento, decidindo o que valia ou não). Nesse ponto, a situação é bem semelhante à do marxismo (se bem que as teses do marxismo têm a história como seu campo de aplicação, então me parecem mais facilmente universalizáveis que a psicanálise), em que cada nova descoberta causa cisões dentro das igrejinhas que acham que monopolizam a teoria. O que é mais chocan

Por que Obras Completas 1996-2007?

com a ajuda inestimável da Tatiana Costa , que protegeu de mim durante cinco anos as últimas poesias escritas por mim que eu preservei (destruí todas as outras em 2007, pra não cair em tentação e publicar, porque elas eram muito ruins), estou colocando elas no meu blog. elas estão com a marcação Obras Completas 1996-2007 porque elas são, como eu disse, o que sobrou desse período da minha e scrita. Como vocês devem saber, eu praticamente não escrevo mais poesia (acho melhor me expressar com outras formas literárias ou não, principalmente os meus "ensaios" que todo mundo menos eu acha que são absurdos, do tipo Marxismo e Ocultismo etc), então isso tudo ficou um tipo de marco de um período de produção "literária" da minha vida (e não marca um período pessoal porque, com exceção de uma ou duas poesias, as que eram muito baseadas na minha vida pessoal eram um lixo). Peço pelo amor de Deus que me passem o que ainda tiverem que eu escrevi, que não tiver

Tirésias diante de Troia (Obras Completas 1996-2007)

Seus seios atrás do cajado Um cego não pode acompanhar o strip-tease das coisas (alethea) Sua barba escondendo pernas e pênis Diz: "Ó glória de manar, ó vã cobiça, Os cabelos de Helena crescem em sua sepultura                                                      seus pentelhos formam a grama dos Campos Elíseos? Aquiles jaz; os barcos afundados se tornaram coortes de fantasmas submersos Que vivem em bailes enfeitados de algas e algozes Eu, mulher nos anos mais duros do Gulag Sinto em meus cabelos o sangue que ela fez jorrar! Enquanto Troia afunda em chamas, Me dedico a dizer que a Cidade não é mais que uma ruína em câmera lentíssima. Enquanto Troia arde escura, Não possa fazer nada além de saber que isto não é um mosaico; as suas casas sim é que são aos pedaços (e seus habitantes, mais ainda)".

Demolição (Obras Completas 1996-2007)

aquele pó azul brilhante misturado com a terra aquelas metralhadoras na mão de anjos, as pedras dos antigos edifícioos (corpos nas casas arrasadas rastos de porra, nas bordas da boca, feridas) olhos saltando Mar salgado quanto do teu sal (suor de foda) e ela, a espada flamejante e um anjo que nos corta tão bem por dentro que nos olhamos no espelho e vemos o cenário da Mona Lisa, a paisagem lunar, Cubatão e o Lixão de Gramacho e muito aquém disso (porque vemos uma pessoa igual à gente, com a nossa voz mas, aparentemente, sem a centelha da alma) quando o triturador de lixo faz presunto de homens e o próprio ar tem vergonha do apodrecimento Ou pior, mais que isso? Porque peço á Musa que constitua uma catedral feita de merda diante de mim como se fosse um deus, ansiando pela expi(r)ação? no final, o fim do mundo é uma propriedade invariável da matéria que se insinua num arco-íris demasiado azul porque a noite vem de dentro dele como um arroto Ou não? Só p