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Mostrando postagens de 2019

Manfredo Tafuri sobre as vanguardas e o papel da arquitetura moderna

O Manfredo Tafuri (1935-1994) foi um historiador da arquitetura italiano. No começo da carreira dele, era marxista (os trechos que eu traduzi são do livro mais importante dele, Projeto e Utopia , de 1973), mas depois virou pós-estruturalista. Estou traduzindo porque tem um ponto de vista relativamente raro dentro do marxismo, de rejeição em bloco do modernismo, como o Jameson notou, se eu não me engano, em A Virada Cultural .  Sobre a tradução: infelizmente, eu só encontrei a tradução em inglês, que é ruim e, às vezes, difícil de entender. Se alguém tiver o original em italiano e puder me mandar, eu reviso. Aldo Rossi, Architecture Assassinée, 1976 Em vez de escolher de fato entre a aspiração pela autonomia absoluta e o autoapagamento voluntário em uma missão "classista", a ideologia terminou, na maior parte dos casos e com uma consistência de comportamento surpreendente, oscilando precariamente na fronteira entre essas duas escolhas.  A aspiração pela

Uma história sem povo: Raízes do Brasil, do Sérgio Buarque de Holanda etc

Tem uns livros que foram importantes durante o século XX para o debate sobre o que é ser brasileiro e qual é a especificidade do Brasil em relação aos outros países da América Latina.  O Augusto Buonicore escreveu uma série sobre isso , mas eu não acho que todos os autores que ele escolheu são representativos da mesma forma. Me arrisco a dizer que os mais marcantes são o Gilberto Freyre, o Sérgio Buarque de Holanda e o Raymundo Faoro. Eu li Raízes do Brasil , do Sérgio Buarque, recentemente, e isso me fez pensar em algumas características que já aparecem lá em 1936, e que também aparecerem no marxismo hegemônico no Brasil.  Esse trio de autores não marxistas se tornou hegemônico na autocompreensão do Brasil, apesar de que eles não são complementares e não cobrem terrenos de igual importância. Os dois primeiros tentam entender a cultura e o Faoro, o poder político. Além disso, os que escrevem sobre a cultura têm pontos de vista diferentes. O Freyre fala das relações raciais

Sobre a questão da transição para o socialismo - série completa

Por que discutir isso? Bernard Friot e a generalização da forma salarial Parecon Michael Lebowitz e David Schweickart e o papel do mercado na transição para o socialismo O funcionamento do modo de produção comunista: o GIK Ernest Mandel sobre o fim da economia mercantil e monetária e a abolição do trabalho Oskar Lange e o cálculo econômico numa economia planificada A crítica do valor e a comunização "Abolição do sistema salarial", cartaz da IWW

Sobre a questão da transição para o socialismo (8) - a crítica do valor e a comunização

Finalmente, vou terminar essa série, falando sobre duas tentativas, a partir das décadas de 1970 e 1980, de recolocar a luta pelo socialismo dentro de uma crítica radical da tradição marxista. Depois, vou falar algumas coisas, como conclusão. A primeira é a comunização. No período pós-1968, alguns teóricos dentro da esquerda comunista tentaram compreender porque não aconteceu uma nova onda da revolução internacional (semelhante à onda de 1917-1921), como os bordiguistas e situacionistas (entre outros) tinham previsto. Essa reflexão levou a soluções muito diferentes, desde a maioria dos bordiguistas, que simplesmente constataram o fato, mas não mudaram as suas fórmulas estratégicas e continuam a esperar a nova onda, até a rejeição da luta de classes como motor revolucionário, por exemplo na obra do Jacques Camatte.  Os teóricos da comunização, a partir do meio da década de 1970 (o livro Um mundo sem dinheiro é de 1975), deram uma resposta que não negava o potencial revo

Algumas palavras sobre "Da Natureza Humana", do E. O. Wilson, e a psicologia evolutiva

Esse livro é de 1979, eu tinha lido um pedaço muito tempo atrás, e fui reler. Pra quê? Pra ter uma visão de conjunto da sociobiologia e entender um pouco a psicologia evolutiva, que é uma análise da psicologia baseada em premissas parecidas com as que a sociobiologia usa pra analisar sociedades. No pensamento marxista, o pressuposto é de que existe determinismo social no comportamento humano. É possível fazer várias citações ("o homem é o conjunto das relações sociais" etc), mas o que importa é que esse pressuposto é usado pra garantir a possibilidade de, mudando as relações sociais, os seres humanos agirem de forma solidária e pacífica, o que é uma tentativa de resposta à visão hobbesiana de "homem lobo do homem" que tem sido historicamente usada pelo pensamento burguês para dizer que a emancipação humana é uma utopia. Por causa disso, os poucos autores marxistas que tentaram se engajar com a sociobiologia ou a psicologia evolutiva, tipicamente, vão d

Financiamento coletivo do livro Cyberpunk!

Um dos contos, Cyberfunk , eu escrevi junto com o Carlos Contente. O link do financiamento é esse  aqui . 

Sobre a questão da transição para o socialismo (7) Oskar Lange e o cálculo econômico numa economia planificada

Essa é uma tradução (acho que a primeira em português) do terceiro capítulo do artigo Sobre a Teoria Econômica do Socialismo , de 1936, que é a resposta do Oskar Lange à tese do Ludwig von Mises sobre a impossibilidade do cálculo econômico no socialismo. Em Capitalismo, Socialismo e Democracia , o Joseph Schumpeter concorda com a análise do Lange. O ponto de vista do Lange foi geralmente considerado direitista no movimento comunista, e a forma de planificação nos países do campo da URSS foi, em quase todos os casos, a planificação burocrática que o Lange criticou no pós Segunda Guerra, quando trabalhou na Escola de Planejamento e Estatística da Polônia. O procedimento de tentativa e erro numa economia socialista A fim de discutir o método de alocação de recursos numa economia socialista, temos que declarar que tipo de sociedade socialista temos em mente. O fato da propriedade pública dos meios de produção, por si só, não define o sistema de distribuição dos bens de consumo