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Demolição (Obras Completas 1996-2007)


aquele pó azul brilhante misturado com a terra
aquelas metralhadoras na mão de anjos, as pedras
dos antigos edifícioos

(corpos nas casas arrasadas
rastos de porra,
nas bordas da boca, feridas)

olhos saltando
Mar salgado
quanto do teu sal

(suor de foda) e ela, a espada flamejante
e um anjo que nos corta tão bem por dentro
que nos olhamos no espelho e vemos
o cenário da Mona Lisa, a paisagem lunar, Cubatão e o Lixão de Gramacho
e muito aquém disso

(porque vemos uma pessoa igual à gente, com a nossa voz
mas, aparentemente, sem a centelha da alma)

quando o triturador de lixo faz presunto de homens
e o próprio ar tem vergonha do apodrecimento

Ou pior, mais que isso?

Porque peço á Musa que constitua uma catedral feita de merda diante de mim
como se fosse um deus, ansiando pela expi(r)ação?

no final, o fim do mundo é uma propriedade invariável da matéria
que se insinua num arco-íris demasiado azul
porque a noite vem de dentro dele como um arroto

Ou não?
Só perguntar é um murro em ponta de faca
ou na barriga da tartaruga que sustenta o mundo

dedos e dados

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