Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de 2022

Modelo econométrico e materialismo histórico (Michal Kalecki)

O modelo econométrico e o materialismo histórico constituem duas abordagens distintas do desenvolvimento de uma sociedade. O primeiro está baseado em relações funcionais entre as variáveis econométricas no período considerado, bem como entre essas variáveis e as mesmas variáveis em períodos anteriores. Supõe-se que essas relações são dadas e não sujeitas a modificação. Dessa forma, estabelece-se um processo dinâmico definido, o qual, no entanto, corresponde ao desenvolvimento real apenas no caso em que o suposto básico de invariabilidade das relações funcionais, a que nos referimos acima, se verifique. O materialismo histórico considera o processo de desenvolvimento de uma sociedade como o de suas forças produtivas e relações de produção (base), que configuram todos os outros fenômenos sociais, como o governo, cultura, ciência e tecnologia, etc. (superestrutura). Existe aqui um efeito recíproco envolvido, com a superestrutura influenciando a base também. As duas abordagens não parecem

A diferença entre os problemas econômicos cruciais das economias capitalistas desenvolvidas e subdesenvolvidas (Michal Kalecki)

  I I O principal problema de uma economia capitalista desenvolvida é a adequação da demanda efetiva. Tal economia possui um equipa mento de capital que mais ou menos se equipara à força de trabalho existente, e, portanto, poderia gerar uma bem mais elevada renda per capita se seus recursos fossem plenamente utilizados. Isso, todavia, não é necessariamente o caso. Acreditava-se no passado que isso ocorresse automaticamente, isto é, que tal economia tendesse para a manutenção do pleno emprego e que, assim, o desemprego pudesse ser considerado meramente um acidental e pouco durável desvio da plena utilização de ' recursos, uma fricção sem importância que poderia ser desprezada. Revisão básica dessa concepção se deu durante a grande depressão da década de 1930, em que o sistema capitalista foi abalado até seus fundamentos. De fato, é claro para nós, hoje em dia, que o problema da subutilização de recursos é, em certo sentido, inerente a uma economia capitalista desenvolvida e que, pel

"A Destruição da Razão", do Lukács (3)

Houston Stewart Chamberlain  O sexto capítulo fala sobre a fascistização na sociologia alemã. Aqui o Lukács entra na problemática das ciências particulares, que é um dos pontos mais importantes da polêmica da corrente lukacsiana contra o pensamento do século XX que eles caracterizam como burguês. Ao mesmo tempo em que colocam um ponto final na história da filosofia em 1848, e proscrevem tudo o que veio depois e não é marxismo como decadente, eles também rechaçam todas as humanidades, dizendo que elas têm o vício de origem de serem ciências particulares, ou seja, de que elas rejeitam a visão unificada sobre a sociedade que o marxismo tem. No caso da sociologia, isso aconteceria porque ela tira dos fenômenos sociais a base econômica, e aí o que sobra é uma concepção organicista sobre a sociedade, copiada da biologia e, depois, teorias subjetivistas de base culturalista.  Isso não é a mesma coisa que a discussão de que as chamadas ciências humanas seriam pseudociências, é até engraçado qu

"A Destruição da Razão", do Lukács (2)

Nietzsche, Edvard Munch, 1906 Vou tentar retomar a resenha do livro pelo terceiro capítulo, que é o mais conhecido, e que foi o que me pegou, naquela época em que eu via que o Nietzsche era uma unanimidade na academia e na esquerda intelectual, mesmo os textos dele com um conteúdo explícito antidemocrático e antissocialista, e encontrei no Lukács a única exceção e o único filósofo que eu vi que avaliava as obras pelo que tava escrito. Esse capítulo faz uma crítica razoável ao Nietzsche, apesar de que, e aqui esse defeito do livro ainda aparece relativamente fraco, essa crítica se baseia no posicionamento político suposto do Nietzsche, e não numa crítica imanente da obra dele, que deveria ser a atitude marxista. Existe uma articulação no Nietzsche entre a forma aforistica e o conteúdo mitológico. O Lukács corretamente diz que o ponto de vista do Nietzsche, que é o da preservação da cultura, é sincero, mas acaba perdendo isso de vista várias vezes, tentando explicar politicamente vários

"Radical Enlightenment", do Jonathan Israel

  Eu tinha conseguido um PDF desse livro (tem uma edição antiga em português, mas eu nunca vi), mas só agora eu parei pra ler. É um livro que o Kenan Malik recomenda muito , e que tem a ver com as minhas leituras sobre a questão do iluminismo . Não é fácil de ler. São mais de setecentas páginas, numa linguagem que eu achei rebuscada até pra esse tipo de obra acadêmica, com citações em inglês e francês do século XVII e trechos bem longos sobre dezenas de figuras históricas que hoje são quase desconhecidas. Tinha hora que dava vontade de desistir, mas valeu a pena.  O Jonathan Israel é um historiador dos Países Baixos no século de ouro, e tem três teses principais: primeiro, que o florescimento do iluminismo a partir do meio do século XVIII foi o resultado de um processo longo, que começou aproximadamente em 1650, com o surgimento da "Nova Filosofia" cartesiana. Depois, que esse foi um processo internacional (rejeitando as concepções de centralidade francesa, britânica, e a de

Greves 1850-2020

  Usando as informações do Instituto Internacional de História Social de Amsterdam , eu fiz esse gráfico com os dados oficiais sobre greves, cobrindo o período de 1850 a 2020. As informações de 2010 para cá estão incompletas, então provavelmente o gráfico não reflete a realidade (por exemplo, não tem a onda de greves da Primavera Árabe e as greves gerais na Índia mais recentes), mas eu coloquei para ter todos os dados. Criei a tabela no Infogram .  Line Chart Infogram

Áudio sobre o Carl Schmitt e outros temas

  Clica na figura Membros da seita herética dos Flagelantes. Gravura da Crônica de Nuremberg, 1493