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Mostrando postagens de 2013

A teoria do Capitalismo de Estado no movimento trotskista

Eu tava falando com o Pablo sobre esse assunto. Ele realmente não é muito conhecido. Mas, na verdade, o debate sobre qual tipo de sociedade existia na URSS produziu várias explicações diferentes e, mesmo que o Trotsky, e a maioria do movimento trotskista tenha defendido que a URSS era um Estado Operário Degenerado, sempre existiram correntes que defenderam duas outras posições. Coletivismo burocrático A primeira, que foi responsável pelo primeiro racha da Quarta Internacional, é a de que existia uma formação social completamente nova, nem capitalista nem socialista, que foi chamada de coletivismo burocrático. Segundo essa posição, se tratava de uma nova sociedade de classes, em que a burocracia era uma classe dominante que explorava coletivamente os trabalhadores através da propriedade estatal. Existem duas variantes dessa teoria, a que diz que o coletivismo burocrático é tão opressivo quanto o capitalismo, e a que diz que, pela ausência das liberdades democráticas, o coletivi

O Acampamento das Mulheres pela Paz de Greenham Common

Abraço da Base Eu queria falar brevemente de um processo de lutas que foi completamente apagado da história oficial. Durou dezenove anos, e um dos seus picos foi a maior ação de massas só de mulheres que já houve no Reino Unido, além de ter sido provavelmente uma das ações de massas mais radicalizadas que o feminismo e o movimento antiguerra fizeram em todos os tempos. Mais ainda (e esse é o motivo do Acampamento ter sido apagado), foi uma ação planejada e dirigida por feministas radicais. Eu fiquei sabendo sobre o acampamento lendo esse texto da Terry Conway , socialista feminista inglesa. Existe esse site aqui , mas a maior fonte mesmo foi o artigo da Wikipédia, que faz uma cobertura meio jornalística do processo. Pra resumir a história, em setembro de 1981, a base da RAF (Real Força Aérea britânica) de Greeham Common (na cidade de Berkshire, Inglaterra) passou a abrigar silos para 96 mísseis nucleares americanos. Um grupo galês chamado Mulheres pela Vida na Terra acampou

Aristocracia Operária

Aristocracia operária Por causa da praga do 3G, e não tenho como baixar as imagens pra continuar a Pequena História da Pintura Abstrata. Por isso, e também pra mudar o assunto de novo, vamos voltar à crítica da economia política. Esse assunto de hoje é um dos mais sérios de todos, e um dos mais esquecidos e mais instrumentalizados pra objetivos de batalhas políticas mesquinhas. Mas tem a ver com o grande assunto que eu tenho pesquisado há um bom tempo, que tem a ver com a teoria da decadência do capitalismo: a classe operária pode ser considerada uma classe revolucionária? em que condições? isso muda com o tempo? Por isso, essa postagem é o prelúdio pra outra que eu ainda estou pesquisando, mas que vai se chamar Revolução! Pra quem não lembra Essa ideia de que existe uma aristocracia operária, que tem condições de vida semelhantes às das camadas médias urbanas, e que é a base social para o reformismo, se imortalizou com o Lênin, mas tem base nos escritos de Marx e Engels.

Declaração do Coletivo Combahee River

Pela primeira vez em português (eu acho), um documento histórico do feminismo negro. Ele é uma das primeiras tentativas de integrar na mesma análise o marxismo, o feminismo e a luta antirracista. Como o texto é autoexplicativo, só vou mencionar três coisas: a) o nome do coletivo foi tirado da ação de Combahee River, uma ação militar da Guerra Civil Americana, a única planejada e dirigida por uma mulher, a abolicionista Harriet Tubman; b) como elas falam na Declaração, o foco do coletivo era o grupo de estudos, combinado com a participação nas lutas. Como isso não exigia uma organização muito formal, o coletivo acabou se dissolvendo em 1980, e as militantes foram para os movimentos em que já estavam ativas; c) eu continuo usando o meu método irritante de encontrar equivalentes para gírias, menos em herstory , que eu simplesmente aportuguesei para herstória, por não ter encontrado solução melhor; d) eu não vou falar aqui sobre a política ou a teoria da Declaração, mas podemos falar so

Pequena História da Pintura Abstrata (2) - A experiência das vanguardas (primeira parte)

A experiência das vanguardas Uma característica específica do modernismo foram as vanguardas, ou seja, pequenos grupos de artistas, unidos por um programa comum para as artes. Eu acho que pode ser provado que as pequenas seitas da extrema-esquerda copiaram esse tipo de concepção, a partir das contrarrevoluções dos anos 1930 que cortaram os seus vínculos com os movimentos de massas. A proliferação das vanguardas (a fase mais louca foi entre 1905 e 1924) foi tão grande que surgiram dezenas de ismos, alguns efêmeros, explorando praticamente todas as formas de expressão possíveis. Até as coisas mais loucas que o pós-modernismo produziu já tinham sido criadas pelas vanguardas do alto modernismo, por exemplo, as instalações (a Casa do Kurt Schwitters), arte conceitual (as coisas do Marcel Duchamp), obras aleatórias (poemas dadaístas), música concreta (futurismo italiano) etc. Como apontou o Fredric Jameson, o novo do pós-modernismo não são as experiências, e sim o contexto cultural da é

Teoria do Privilégio, mais uma ideologia formalista da sociologia burguesa

Eu tava devendo essa postagem ao Thiago Sobral há quase dois meses, e reparei que duas postagens sobre o assunto no mesmo dia, no Escreva Lola Escreva e nas Blogueiras Feministas , são um ayat de que eu devo despachar logo isso. A vaga noção de privilégio Uso a expressão "vaga noção", porque "privilégio" não merece ser chamado de conceito. De tão vago que é, eu acho que pode significar duas coisas diferentes: a) a ideia de que pessoas privilegiadas por serem homens, brancos, ricos, heterossexuais etc desfrutam de oportunidades e segurança que não são acessíveis a quem não tem esses privilégios. b) a ideia de que as pessoas privilegiadas se beneficiam das que não tem os respectivos privilégios. Parece que a visão da Lola é a primeira, pela postagem dela. Se for esse o caso, então o conceito de privilégio não significa nada, a não ser uma visão em negativo da discriminação. Isso tem a ver com o contexto social onde surgiu a teoria do privilégio, o pân