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Live "Distopias e Utopias" no canal Linhas de Fuga

Curtam o canal Linhas de Fuga, do Diego Felipe e do Vladimir Santafé. 

O que defender e o que rejeitar da assim chamada civilização ocidental?

Eu tô há um tempo sem publicar no blog, por causa de vários problemas pessoais. Mas eu tô vivo. Vou aproveitar pra só falar uma coisa rapidinho. Um posicionamento que eu queria botar no papel e eu fiquei pensando numas conversas hoje. Homem Vitruviano, Leonardo da Vinci, 1490 O problema É moda entre os cruzadinhos de merda da extrema direita defender a assim chamada civilização ocidental, ou uma coisa mais ficcional ainda, a tal da civilização judaico-cristã . Bem, quando esses caras fazem isso, é pra defender as raízes cristãs da nossa cultura. Só que o que tem de diferente (e melhor ) na civilização ocidental não é o cristianismo - a Europa ocidental na Idade Média não era qualitativamente diferente do mundo árabe-islâmico, da Índia ou da China - na verdade era mais atrasada, era a Belford Roxo do mundo.  O que fez a Europa tomar a dianteira culturalmente foram o Renascimento, a revolução científica, a Reforma e o Iluminismo. Ou seja, justamente o q...

Manfredo Tafuri sobre as vanguardas e o papel da arquitetura moderna

O Manfredo Tafuri (1935-1994) foi um historiador da arquitetura italiano. No começo da carreira dele, era marxista (os trechos que eu traduzi são do livro mais importante dele, Projeto e Utopia , de 1973), mas depois virou pós-estruturalista. Estou traduzindo porque tem um ponto de vista relativamente raro dentro do marxismo, de rejeição em bloco do modernismo, como o Jameson notou, se eu não me engano, em A Virada Cultural .  Sobre a tradução: infelizmente, eu só encontrei a tradução em inglês, que é ruim e, às vezes, difícil de entender. Se alguém tiver o original em italiano e puder me mandar, eu reviso. Aldo Rossi, Architecture Assassinée, 1976 Em vez de escolher de fato entre a aspiração pela autonomia absoluta e o autoapagamento voluntário em uma missão "classista", a ideologia terminou, na maior parte dos casos e com uma consistência de comportamento surpreendente, oscilando precariamente na fronteira entre essas duas escolhas.  A aspiração ...

Uma história sem povo: Raízes do Brasil, do Sérgio Buarque de Holanda etc

Tem uns livros que foram importantes durante o século XX para o debate sobre o que é ser brasileiro e qual é a especificidade do Brasil em relação aos outros países da América Latina.  O Augusto Buonicore escreveu uma série sobre isso , mas eu não acho que todos os autores que ele escolheu são representativos da mesma forma. Me arrisco a dizer que os mais marcantes são o Gilberto Freyre, o Sérgio Buarque de Holanda e o Raymundo Faoro. Eu li Raízes do Brasil , do Sérgio Buarque, recentemente, e isso me fez pensar em algumas características que já aparecem lá em 1936, e que também aparecerem no marxismo hegemônico no Brasil.  Esse trio de autores não marxistas se tornou hegemônico na autocompreensão do Brasil, apesar de que eles não são complementares e não cobrem terrenos de igual importância. Os dois primeiros tentam entender a cultura e o Faoro, o poder político. Além disso, os que escrevem sobre a cultura têm pontos de vista diferentes. O Freyre fala das relaçõe...

Sobre a questão da transição para o socialismo - série completa

Por que discutir isso? Bernard Friot e a generalização da forma salarial Parecon Michael Lebowitz e David Schweickart e o papel do mercado na transição para o socialismo O funcionamento do modo de produção comunista: o GIK Ernest Mandel sobre o fim da economia mercantil e monetária e a abolição do trabalho Oskar Lange e o cálculo econômico numa economia planificada A crítica do valor e a comunização "Abolição do sistema salarial", cartaz da IWW

Sobre a questão da transição para o socialismo (8) - a crítica do valor e a comunização

Finalmente, vou terminar essa série, falando sobre duas tentativas, a partir das décadas de 1970 e 1980, de recolocar a luta pelo socialismo dentro de uma crítica radical da tradição marxista. Depois, vou falar algumas coisas, como conclusão. A primeira é a comunização. No período pós-1968, alguns teóricos dentro da esquerda comunista tentaram compreender porque não aconteceu uma nova onda da revolução internacional (semelhante à onda de 1917-1921), como os bordiguistas e situacionistas (entre outros) tinham previsto. Essa reflexão levou a soluções muito diferentes, desde a maioria dos bordiguistas, que simplesmente constataram o fato, mas não mudaram as suas fórmulas estratégicas e continuam a esperar a nova onda, até a rejeição da luta de classes como motor revolucionário, por exemplo na obra do Jacques Camatte.  Os teóricos da comunização, a partir do meio da década de 1970 (o livro Um mundo sem dinheiro é de 1975), deram uma resposta que não negava o poten...

Algumas palavras sobre "Da Natureza Humana", do E. O. Wilson, e a psicologia evolutiva

Esse livro é de 1979, eu tinha lido um pedaço muito tempo atrás, e fui reler. Pra quê? Pra ter uma visão de conjunto da sociobiologia e entender um pouco a psicologia evolutiva, que é uma análise da psicologia baseada em premissas parecidas com as que a sociobiologia usa pra analisar sociedades. No pensamento marxista, o pressuposto é de que existe determinismo social no comportamento humano. É possível fazer várias citações ("o homem é o conjunto das relações sociais" etc), mas o que importa é que esse pressuposto é usado pra garantir a possibilidade de, mudando as relações sociais, os seres humanos agirem de forma solidária e pacífica, o que é uma tentativa de resposta à visão hobbesiana de "homem lobo do homem" que tem sido historicamente usada pelo pensamento burguês para dizer que a emancipação humana é uma utopia. Por causa disso, os poucos autores marxistas que tentaram se engajar com a sociobiologia ou a psicologia evolutiva, tipicamente, vão d...