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Alguns poemas da MarĂ­lia Machado

Saudades da incrĂ­vel MarĂ­lia, que morreu dia 25/02, aqui vai o link da LQB (grupo trotskista de que ela fazia parte), homenageando ela:



http://www.internationalist.org/mariliatodahonra1202.html

http://www.internationalist.org/mariliafotosepoesia1202.html


Seguem mais alguns poemas dela:
Educando


Profissionais da EducaĂ§Ă£o,
Dizendo nĂ£o ao patrĂ£o.
Ato pĂºblico inflamado,
Discursos revoltados
Com o quase estado de coma.
ZĂ© Brasil passa e fica admirado
Com a força dessa gente que nĂ£o cansa.
Em seu peito massacrado,
Nasce uma nova esperança.
Estende as mĂ£os trĂªmulas,
Faz a cara mais bonita que consegue
E pede Ă quela professora mais valente:
"VocĂª me dĂ¡ um diploma?"
Ela move os lĂ¡bios atĂ´nita
mas sĂ³ o silĂªncio responde.

AboliĂ§Ă£o dos Escravos?


Sem nenhuma garantia,
Sem emprego ou moradia,
Sem alfabetizaĂ§Ă£o.
Isto foi aboliĂ§Ă£o?

Nada de reforma agrĂ¡ria.
SaĂºde, muito precĂ¡ria!
SĂ³ tinha valor o patrĂ£o.
Isto foi aboliĂ§Ă£o?

A favela aconteceu.
O mendigo apareceu.
Criança sem proteĂ§Ă£o.
Isto foi aboliĂ§Ă£o?

O povo negro esquecido,
Empobrecido e sofrido
Com a discriminaĂ§Ă£o.
Isto foi aboliĂ§Ă£o?

Passados mais de cem anos
Vivemos ainda os danos
Daquela situaĂ§Ă£o.
Isto foi aboliĂ§Ă£o?

O grande golpe da histĂ³ria
Ficou em nossa memĂ³ria,
na vida e no coraĂ§Ă£o.

Isto foi aboliĂ§Ă£o?

Retorno


Abri a porta da poeta
Uma teia de aranha recebeu-me,
deslizando pela minha testa.
As coisas estavam mudadas.
A preguiça era dupla:
a minha e a da sala empoeirada.
Deparei com uma mesa riscada
pelos alunos que fizeram arte
e o acĂºmulo de papeis na estante
me lembrando de que o trabalho urgia.
Revesti-me do papel de mestra
e guardei na bolsa minha fantasia.

Quando sou poeta


Quando sou poeta
pairo acima do bem e do mal.
Mas sou tĂ£o frĂ¡gil quando sou mortal...
Quando sou poeta
fico indignada, revoltada!
Quando sou mortal sou lesada...
Quando sou poeta
abomino as injustiças.
Denuncio.
Quando sou mortal
vivo na escravidĂ£o.
Poeta, vivo.
Mortal, sobrevivo.
Mortal, desfaleço.
Poeta, realizo.

Ditadura:
NĂ£o meditas nas
duras que me ditas?

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