Traduzido do I Fucking Love Science
É justo dizer que muitos políticos e organizações da direita ou
extrema-direita são considerados quase inerentemente
anticientíficos. Os fatos não valem mais que os sentimentos para
pessoas como Trump ou grandes corporações como ExxonMobil, que veem
o aquecimento global e o ambientalismo na melhor das hipóteses como
inconveniências e, na pior, como conspirações globais. Isso é
conhecido, e eles evitarem os fatos e evidências científicas
geralmente é denunciado pela mídia.
Entretanto, grupos e
indivíduos que geralmente representam “a esquerda” podem ser tão
anticiência quanto. Os seus pontos de vista não só são tão
errados como os das suas contrapartes do outro lado da cerca, como
ele também podem ser tão perigosos quanto, se muitas pessoas os
ouvirem sem parar para questioná-los.
O Greenpeace é um
exemplo perfeito disso. Reverenciado por um monte de pessoas de
esquerda – 2,8 milhões, de acordo com o seu site – a missão
global da organização certamente é nobre, porque ela deseja
impedir a degradação ambiental e diminuir a mudança climática, da forma que for necessária. Muitos concordam e, para os seus
apoiadores, esse grupo representa a “voz do povo”.
Mesmo assim, os
aderentes do Greenpeace desprezam a energia nuclear, que é uma arma
poderosa na luta contra o aquecimento global. Eles (corretamente)
apontam para o fato de que os resíduos nucleares são um problema,
mas a sua objetividade, e senso de perspectiva, acaba aí.
“Mesmo que a energia nuclear seja consideravelmente mais arriscada
do que a indústria vai admitir, a nossa oposição a novas usinas
nucleares é baseada nos custos de oportunidade envolvidos, e não no
medo”, Dr. Paul Johnston, o principal cientista da Greenpeace's
Science Unit na Universidade de Exeter, disse a IFLScience.
Uma rápida olhada no
site do Greenpeace nos leva a um banner gigante que diz: “é hora
de acabar com o pesadelo nuclear”, com uma referência direta a
Fukushima. Isso certamente parece amedrontador, mas a energia nuclear
merece isso?
Antes de tudo, já se
passaram cinco anos do acontecimento em Fukushima, e não houve um
aumento estatisticamente significativo dos casos de câncer na
região. Significativamente, esse é somente o terceiro acidente
nuclear da história, com apenas Chernobyl – um resultado de
supervisão ruim e construção preguiçosa e não-regulamentada –
sendo um desastre que realmente chocou o mundo.
Em mais de 16 mil anos acumulados de energia nuclear comercial, no máximo cem pessoas
morreram de doenças relacionadas à radicação. Compare com as
dezenas de milhões de pessoas que morrem todos os anos por causa da
poluição dos combustíveis fósseis, e some também os outros
milhões que morrem como resultado indireto do aquecimento global
causado pelos combustíveis fósseis, e fica claro que a ameaça da
energia nuclear é exagerada pesadamente.
Um Desafio Custoso
Johnston também
apontou que a energia nuclear geralmente é mais cara comparada com
as usinas de combustíveis fósseis. Isso é verdade, mas a energia
nuclear pode ficar mais competitiva com um imposto nacional sobre o carbono. Além disso, só porque uma coisa é cara, não quer dizer
que seja ruim – um sentimento com que qualquer agência espacial
concordaria.
Johnston também disse
que “nem todos esses bilhões de dólares são gastos em fontes que
vão fornecer energia no prazo curtíssimo necessário para parar as
mudanças climáticas catastróficas.” A palavra “fontes”,
nesse caso, se refere às energias renováveis.
A energia solar e a
eólica são as únicas grandes fontes de energia renovável que
praticamente qualquer país pode adotar, e elas nunca fornecem uma
fonte constante de energia. A energia hidráulica e a geotérmica só
são disponíveis em alguns países. Mesmo assim, essa energia não
pode ser armazenada por longo prazo, diferente da energia nuclear,
cujo combustível pode esperar até o momento em que for necessário
ser usado.
Importante, as energias
renováveis sozinhas não podem sustentar o planeta todo. Na teoria,
elas podem, é claro – um deserto do Saara até parcialmente
coberto por paineis solares seria tecnicamente o suficiente – mas
isso é idealismo sem pragmatismo.
A energia nuclear tem
uma pegada de carbono muito baixa. Um estudo amplo de 2008 descobriu
que as usinas nucleares modernas têm uma pegada 14,5 vezes menos do
que a das termoelétricas e 6,7 vezes menos que as usinas de gás
natural. Um mundo funcionando à base de energia nuclear e renováveis
produziria carbono em magnitudes menores que o em que vivemos hoje.
Johnston disse que não
sabe de nenhum estudo que sugira que a energia nuclear deva ser
combinada com os renováveis, mas existe um monte de evidências por
aí para serem encontradas. Muitos especialistas que comentaram sobre
o inovador acordo de Paris também concluíram que, para alcançar os
modestos alvos, a energia nuclear é essencial.
Os partidos verdes não
são muito melhores nesse aspecto.
Os EUA, por exemplo,
têm o seu próprio Partido Verde. Ele é presidido pela Dra. Jill
Stein, que é candidata à presidência dos EUA. Embora os seus
pontos de vista possam parecer sedutores para a sua base de
apoiadores de esquerda, um olha mais atento revela que ela é, na
verdade, extremamente anticientífica em sua abordagem.
O seu partido quer
transformar os EUA num país com 100% de energias renováveis em 2030, algo que, do ponto de vista prático, é altamente improvável. O
partido de Stein também tem um posicionamento claramente
antinuclear – uma posição compartilhada pelo Partido Verde do Reino Unido, pelos Verdes australianos e por muitos grupos semelhantes em muitos outros países. Sem energia nuclear, o
aquecimento global vai prosseguir.
Incidentalmente, Stein
também acredita que wi-fi faz mal à saúde, sendo que toda a
evidência diz o contrário. Sobre essa questão, ela na verdade
discorda do próprio manifesto, que defende o acesso universal à
internet. Um AMA recente no reddit revelou que ela ainda é, no
mínimo, ambivalente sobre o wi-fi.
Stein também usou de
linguagem preocupante sobre as vacinas no passado, e o seu partido só
esse ano abandonou o seu apoio ao ensino e financiamento da
homeopatia no seu manifesto. Sinais bem preocupantes.
Em geral, Stein deseja
influenciar a pesquisa científica continuamente reconhecendo as
opiniões do público, o que facilmente poderia deixar pontos de vista anticientíficos entrarem no debate público. Os americanos têm
mais medo de palhaços do que do aquecimento global, então se Stein
fizer uma revolução em 2016, espere pra ver a pesquisa antipalhaços
ganhar um grande aporte de dinheiro.
O comediante John Oliver recentemente falou, entre outras coisas,
sobre os pontos de vista cientificamente duvidosos de Stein na
televisão em rede nacional. Dando o perigoso passo do cinismo à
aberta loucura da teoria da conspiração, ele declarou que Oliver
era membro de uma conspiração ligada a ninguém menos que Hillary Clinton.
Transgênicos
E, então, tem os
transgênicos.
As culturas
transgênicas são criadas primariamente para serem resistentes a
doenças, ambientes hostis e para não dependerem de pesticidas
potencialmente tóxicos. Como você deve saber, têm sido encaradas
com uma oposição implacável de muitos grupos e partidos verdes,
incluindo o de Stein.
A posição oficial do
Partido Verde é estabelecer uma moratória sobre os transgênicos.
Se isso acontecesse, o suprimento de insulina, que salva vidas – e
que é fabricada principalmente usando transgenia – entraria em
colapso.
“O Greenpeace não é
contra a biotecnologia – nem o uso de transgênicos – em
ambientes controlados”, Johnston disse a IFLScience. “Nós
continuamos contra a liberação de culturas transgênicas em
ambiente aberto” Isso implica, estranhamente, que eles nunca
deveriam sair dos laboratórios, que é o objetivo das pesquisas.
Sejamos claros: existem
evidências científicas esmagadoras de que as culturas transgênicas,
que na sua maioria consistem em milho e soja, são seguras para o
consumo humano. Um grande relatório da Academia Nacional de Ciências, Engenharia e Medicina dos EUA, lançado esse ano mesmo,
foi citado por Johnston para concluir que não existe consenso sobre
a segurança e efetividade das culturas transgênicas, mas uma
leitura do estudo mostra que a verdade é quase o oposto.
Ela mostra que, com
algumas pequenas exceções, as culturas transgênicas “têm tido,
em geral, resultados econômicos favoráveis para os produtores”,
notando que as plantações com genes resistentes aos insetos
“diminuíram a perda de colheitas e o uso de inseticidas em
fazendas pequenas e grandes”, em relação a variedades
não-transgênicas.
Depois de examinar uma
pletora de estudos experimentais e dados de longo prazo sobre os
rebanhos e a saúde humana, o comitê não encontrou “nenhuma
evidência substancial de que a comida que vêm de culturas
transgênicas é menos segura que a comida de culturas
não-transgênicas”.
Quando se trata dos
transgênicos, muitos políticos verdes ficam preocupados com grandes
conglomerados opacos como a Monsanto serem donos de uma parte grande
demais do suprimento de comida do mundo. Embora esse tipo de
monopólio seja uma preocupação legítima – assim como o usoexcessivo de pesticidas potencialmente prejudiciais – ele não
torna os transgênicos em si perigosos.
Ainda assim, grupos
como o de Stein e o Greenpeace acreditam fortemente que eles são.
Eles não estão ensinando as pessoas a serem céticas em relação
aos transgênicos, e sim defendendo uma oposição frontal à
tecnologia, apesar das evidências disponíveis.
Pontos de vista que ameaçam a vida
Algumas culturas transgênicas são fabricadas especificamente para
salvar vidas. Golden Rice – um projeto financiado e apoiado pela
Fundação Bill and Melinda Gates – é um exemplo excelente disso.
É uma variedade da plantação comum que tem mais vitamina A que o
normal.
Ela é feita para ser
cultivada em partes do mundo em que as populações sofrem mais com
deficiência dela. Na melhor das hipóteses, ficam cegos; na pior,
morrem – 2 milhões por ano.
Mesmo que mais testes sejam necessários, o Golden Rice é uma
promessa para resolver esse problema efetiva e rapidamente. Mesmo
assim, o Greenpeace protesta contra ele sem nenhum motivo científico,
potencialmente colocando em perigo milhões de vidas por ano. Mais de
100 ganhadores do Prêmio Nobel pediram que ele parasse de difundir o
que eles consideram como desinformação sobre o assunto, mas sem
resultado.
Numa entrevista
exclusiva para IFLScience, Bill Gates notou que esse tipo de protesto
vai prejudicar mais os países menos desenvolvidos.
“O fato de que alguns
países ricos não vão aproveitar comidas mais produtivas e
nutritivas não é problema”, disse. “O que eu vejo como
problemático é impor esse ponto de vista a países em que os
benefícios são tão dramáticos – em termos de evitar pragas que
levam à fome, ou cultivar plantações que melhoram a nutrição e
fornecem vitamina A para o povo.”
Lembre: não tem nada
de errado em ser cético, e o ambientalismo é uma causa digna da
nossa luta, mas você precisa se armar com informações corretas
para ir à batalha. Senão, você pode fazer um grande dano. Faça a
sua pesquisa e cheque as suas fontes.
Você não precisa
sempre estar à direita do espectro político para estar errado em
ciência.
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