Marc Devade, sem título, 1972 |
Concretismo
Para manter o critério da gradação do afastamento
progressivo da forma tradicional da pintura, é melhor começar com o
concretismo, em vez do espacialismo.
Com o concretismo, a arte brasileira e latinoamericana
começa a criar tendências internacionais na arte. Começando na literatura, com
o grupo Noigandres (1952), mas logo chegando às artes plásticas, com o grupo
Frente (1954), foi um dos movimentos mais vinculados a uma produção teórica
sobre estética, comunicação e cultura de massas. Isso, inclusive foi uma das
características mais criticadas do concretismo - as obras eram praticamente a
ilustração das proposições teóricas.
Hélio Oiticica, Grande Núcleo, 1960 |
O ponto de partida deles foram as composições do Mondrian,
que eles ampliaram até incluir primeiro as próprias telas, depois
tridimensionalizaram e transformaram em composições penetráveis – como é o nome
de uma série do Hélio Oiticica – o que foi uma ponte da pintura para a
instalação, para onde os dois passariam a partir de 1958 (a Lygia Clark foi
muito mais radical e experimental e passou a criar “não-arte”, como ela
chamava, objetos que lidavam diretamente com o corpo).
Lygia Clark. Eu e o Tu, 1967 |
Op Art
Victor Vasarely, Zebras, 1938 |
Na op art, a forma é substituída pelo efeito, planejado
tecnicamente. Por isso, depois do impacto inicial, não se mantém nenhum
elemento subjetivo. É a ausência total do sentido na obra. Não por acaso, a op
art seguiu a mesma tendência do concretismo, indo para fora da tela, seja para
se dissolver, seja para reproduzir em outros suportes efeitos visuais ou
sonoros, o que não significa que alguns artistas da op art não tenham mantido
carreiras criativas durante décadas, com uma abordagem mais pessoal.
Fora dos quadros
Frank Stella, Flin Flon VIII, 1979 |
Mas o que existia de progresso real na linguagem artística
estava se afastando cada vez mais da pintura. É como se a abstração não
precisasse mais do suporte da tela e tivesse se soltado no espaço
tridimensional. Para isso, houve um resgate de experiências do dadaísmo,
futurismo e construtivismo.
Lucio Fontana, Conceito Espacial, 1959 |
Requeremos a superação da pintura, da escultura, da poesia, da música. (...) Cor, o elemento do espaço, som, o elemento do tempo, e o movimento que se desenvolve no tempo e no espaço, são as formas fundamentais da arte nova, que contém as quatro dimensões da existência. Tempo e espaço.
Como o manifesto dá a entender, também se busca a
incorporação do movimento nas obras, realizando uma aspiração dos futuristas e
que se manifestou durante o período heróico do modernismo principalmente nos
móbiles de Alexander Calder.
Alexander Calder, Vermelho Triunfante, 1959-63 |
Em condições cada vez piores de decadência das formas de
vida capitalistas, a começar pelo sujeito autônomo, com a absorção cada vez
mais completa da esfera cultural pelo mercado e o esgotamento das experiências do
modernismo, nas novas formas de arte continua a luta, cada vez mais difícil
para manter a forma autônoma da obra de arte.
A pintura vai e vem, ao sabor das modas pós-modernas. Dentro
desse quadro, o abstracionismo continua, suprassumido e, às vezes, até
reaparecendo nas telas.
Epílogo
O marxismo, por ser uma teoria da história, tem uma
afinidade maior com as artes narrativas do que com a pintura. Isso é visível
nas obras dos maiores estetas marxistas. O teórico que talvez tenha sido o que
mais se dedicou à pintura, o Mário Pedrosa, infelizmente o fez usando um
aparato conceitual quase totalmente gestaltiano.
A minha intenção foi estender a estética lukacsiana até a
análise da pintura abstrata. Para isso, a maior dificuldade a se enfrentar é o posicionamento
antimodernista do filósofo, que pouco se abrandou com o tempo.
Eu procurei enquadrar o abstracionismo dentro do quadro
geral de crise do sujeito burguês que caracteriza a arte moderna, uma situação
em que os pintores, vindos do pós-impressionismo, vão buscar na música o
referencial para um gênero da pintura que não mimetiza a natureza, e sim o
mundo interior humano. Tentei mostrar como as condições sociais condicionaram
as técnicas e vice-versa, e como o abstracionismo evoluiu, das vanguardas da
Belle Époque até a sua decomposição pós-Segunda Guerra, em que a abstração
migrou das telas para novas linguagens artísticas, mantendo como tendência
subordinada uma pequena contracorrente de pintores.
Espero que tenha ficado bom.
Comentários