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Amy Winehouse morreu - o rock já tinha morrido muito antes!

(Não vou postar foto porque, se você quiser, é só jogar no Google!)


A morte da Amy Winehouse, com 27 anos, coloca ela em continuidade com os grandes expoentes do rock.

Mas tem uma coisa: ela não era uma cantora de rock.

Isso não é casual.

Depois da degradação do conteúdo e da forma do rock, a sua continuidade em relação aos temas e ao seu "espírito" só podia acontecer por fora do formato já totalmente estagnado. A mesma coisa se aplica, eu acho, ao conjunto das artes plásticas, à política revolucionária e à literatura.


De um 27 até Amy

O último "elo" dos 27 antes da Amy foi o insignificante Kurt Cobain.

O Nirvana foi o estágio final de decomposição do rock'n'roll. Depois daquilo, só restava esperar os bárbaros.

O grunge era o uso da "técnica" do punk (= não tocar nada!), sem a concepção situacionista do punk (fusão entre a vida e a arte, arte como estilo de vida, chocar o público etc). O Conteúdo do grunge é os choramingos intimistas

(pra usar a expressão do Carlos Nelson Coutinho, "intimismo à sombra do poder")

de jovens sem nenhuma referência cultural, ideológica, espiritual, política etc.

Depois da merda do Nirvana (com exceção da única música boa, Smells like a teen spirit), nenhum desenvolvimento possível poderia acontecer dentro do rock. Quem ouviu as bandas da década de 1990 sabe disso. Só se salva o Smashing Pumpkins, porque eraum passo atrás, em termos de conteúdo (atrás, sendo para os anos 1980).


Uma análise marxista do rock'n'roll

Não cabe aqui desenvolver esse subtítulo. Aliás, ele vai ser desenvolvido pelo blog, deforma fragmentária.

Mas não é impossível periodizar esquematicamente a história do rock

1) 1954-1961: música de preto, contra a moral puritana dos anos 1950. Até os brancos, como o Jerry Lee Lewis, estavam nessa onda.

2) 1961-1966: branqueamento do rock, criando o pop muquirana. Mesmo os Beatles acabaram contribuindo pra isso (mas eles foram responsáveis por salvar o rock desse beco sem saída depois). Fase comercial.

3) 1966-1973: coincidindo com as grandes lutas revolucionárias no mundo (Direitos Civis nos EUA, movimento antinuclear na Inglaterra, maio de 1968, Primavera de Praga etc), nova integração racial revolucionária (Jimmi Hendrix, Janis Joplin - o Led Zeppelin e o Black Sabbath começam tocando blues). O rock se torna uma corrente revolucionária na música.

4) Coincidindo com a crise de 1973, começa a fascistização do rock. O rock progressivo se torna uma barreira elitista, o heavy metal começa a se descaracterizar (a degeneração do heavy metal na década de 1980 merece um post à parte). O punk foi a única solução.

5)1977-1981: o punk é uma resposta insuficiente. Superar a divisão entre vida e arte na prática é uma utopia sem antes abolir o trabalho. Por isso, o punk levou ao mesmo resultado do situacionismo, já previsto por Marcuse: dissolver a forma estética, que era a única arma para resistir ao sistema à mão das bandas.

6) 1981-1991: crise terminal: pop-rock que não faz mal a ninguém. Não deixa de ser divertido, só não tem conteúdo. No Brasil, graças ao desenvolvimento desigual e combinado, foi a fase das bandas críticas, Acima de tudo o Legião. Por outro lado, a fascistização do punk (ganguismo, lifestylism) e do metal (death metal, black metal etc). O Nirvana foi o atestado de óbito.


Integracionismo revolucionário

O rock era música marginal, e só pôde se desenvolver com o pé nas raízes negras. Foi isso o que fez a Amy Winehouse avançar, na fase em que a música acabou.

E ela colocou um conteúdo novo na arte - o próprio drama dela. Nunca ninguém tinha retratado tão diretamente esse tupo de experiências, que não foi muito diferente da Janis Joplin (mas que ela nunca retratou). Foi ser junkie sem a utopia dos anos 1960.

Por hoje é só, mas ficam as palavras e a música dela. Como disse Baudelaire (traduzido por Ivan Junqueira):

"Então, querida, dize à carne que se arruína
Ao verme que te beija o rosto
Que eu preservei a forma e a substância divina
Do meu amor já decomposto!"

(Uma Carniça)

Comentários

Hexis disse…
É Do Ó, não conhecia ainda esse teu lado Fukuyama...
vivisceral disse…
caraca, maluco, só falando igual a funkeiro mesmo pra dizer que fiquei boladona que tu falou mal do nirvana... q merda...
Luiz disse…
Acho que como qualquer parada submetida à lógica econômica, qualquer elemento da superestrutura tem um limite. Por isso acho que o rock por si só não era revolucionário.
Mas eu entendi o que tu quis dizer.
Pra quem já disse que Janis Joplin é a maior cantora de todos os tempos, esse post num tinha como ficar ruim.
= )
Concordo com a maior parte, tirando algumas avaliações pessoais.
Acho que a maior dificuldade dos dias de hoje talvez seja você encontrar uma arte ou um estilo que ligue as suas abstrações com a sua realidade.
Rock é muito bom. Mas de fato o que é bom é antigo, e é um pouco difícil relacionar com o nosso hoje.
Hoje em dia, com o pós-modernismo,
todo mundo canta a mesma coisa, achando que ta cantando a última novidade do mundo. Tirando as bandinhas pré-facricadas.
É triste, mas no momento histórico que a gente vive, sem muitas contradições ideológicas a nível mundial, é muito complicado.
A gente vai vivendo, escrevendo, cantando nossas próprias músicas às vezes...
E segue lutando pela chegada de um mundo nosso, onde as músicas boas não simplesmente voltem, mas ressurjam.
rodrigodoo disse…

Conversa muito boa com o Cândido sobre o assunto:

http://www.facebook.com/rafael.sound/posts/369065106522193?comment_id=2033652&ref=notif&notif_t=share_reply
Unknown disse…
Rodrigo! nos anos 80 ainda teve uma reação do metal com o NWOBHM na Inglaterra! De lá teve o Iron Maiden, Judas Prist, Pray Mantys, Tiger of Pan Tang, Diamond Head, Saxon, MotorHead, Angel Wicth e uma porrada de banda, a maioria não muito famosas, que levantou o Rock n Roll e competiu a versão punk. Algumas dessas bandas até tinham algum conteudo de contestação ào neoliberalismo do governo da Tatcher e a redução de direitos e empobrecimento dos trabalhadores na Inglaterra.
Nem tudo foi derrota, mos no fim dos anos 80 a decadencia ja tinha se consumado. Acho que esta tudo associado com a reação neoliberal após o fim da URSS e dos estados do Leste.
rodrigodoo disse…
É mesmo, Thieplo,

se a gente for pegar a década de 1980, tem muita coisa interessante, porque foi a época em que surgiram as vertentes que existem hoje no metal, e que no começo nem todas eram completamente decadentes, tem muita banda boa pra garimpar e falar!

Um abração!